Não tenha medo do cateterismo: entenda as indicações e a segurança do procedimento
Recentemente, foi noticiada a morte do consultor de etiqueta e ex-participante do reality show “A Fazenda” Fábio Arruda, aos 54 anos. Diz a notícia que exames cardiológicos de rotina haviam revelado a presença de uma obstrução em uma das artérias coronárias (vasos que irrigam o músculo cardíaco) do consultor. Na sequência, ele teria sido submetido a um cateterismo cardíaco que confirmou a presença de uma obstrução grave (90%) em uma das artérias coronárias. Entretanto, não ficou claro se no mesmo procedimento foi realizado o tratamento por cateter dessa obstrução. O fato é que, quatro dias após a realização do cateterismo, Fábio Arruda faleceu de forma súbita em casa.
Esse triste episódio suscitou muitas dúvidas sobre o que é o cateterismo cardíaco, a sua indicação e os risco associados a esse procedimento.
Indicações para realização do procedimento
O cateterismo cardíaco é um exame diagnóstico amplamente utilizado há mais de 50 anos e que serve para confirmar ou não a presença de obstruções nas artérias coronárias (placas de gordura que se formam na parede dos vasos, que gradativamente reduzem a passagem de sangue por eles). É realizado através da punção de uma artéria no punho (acesso radial) ou na virilha (acesso femoral) e da introdução de um cateteter que é avançado até o coração e detecta a presença de obstruções por intermédio da injeção de contraste radiológico nas artérias coronárias.
É importante ressaltar que o cateterismo cardíaco é um exame diagnóstico que é o padrão-ouro para a definição da situação das artérias coronárias. Além disso, é um exame extremamente seguro, com risco de complicações graves (como infarto, acidente vascular cerebral ou morte) inferior a 0,3%.
Em pacientes clinicamente estáveis, ou seja, que apresentam angina (dor no peito por falta de oxigenação do músculo cardíaco) apenas aos esforços maiores ou naqueles nos quais um exame não invasivo (como o teste ergométrico, a cintilografia do miocárdio ou a ressonância magnética cardíaca) mostrou a presença de isquemia (irrigação deficiente de uma região do coração), o cateterismo é, geralmente, realizado de forma ambulatorial, eletiva e programada (permanência no hospital por três a quatro horas). De maneira análoga, se confirmada a presença de obstruções nas coronárias, o tratamento (angioplastia com implante de stents ou, eventualmente, a cirurgia de ponte de safena) é também realizado de forma eletiva e planejada.
Já em pacientes com sintomas considerados instáveis (angina de surgimento recente, que ocorre aos esforços progressivamente menores, de forte intensidade ou de duração prolongada), o cateterismo deve ser realizado o mais breve possível (em caráter de urgência) sendo que, frequentemente, recomenda-se a internação do paciente antes da realização do procedimento. Nesses casos, uma vez confirmada a presença de uma ou mais obstruções nas coronárias, o tratamento por cateter (chamado de angioplastia com implante de stent) é realizado durante o mesmo procedimento.
Finalmente, em pacientes com infarto agudo do miocárdio em evolução (provocado por uma obstrução total de uma artéria coronária pela placa de gordura), o cateterismo cardíaco e a angioplastia são realizados de forma emergencial (ou seja, com o mínimo retardo possível) visto que o tratamento precoce reduz o risco de morte e de complicações relacionadas à morte do músculo cardíaco.
No caso do consultor Fábio, não ficaram claros nem o quadro clínico apresentado por ele (angina estável, instável ou infarto) nem se ele foi submetido apenas ao cateterismo diagnóstico ou se também foi realizada a angioplastia com stent no mesmo procedimento.
Risco baixo de complicações
Importante frisar que o tratamento por angioplastia está associado a taxas de sucesso extremamente elevadas (acima de 97%) e risco muito baixo de complicações durante a hospitalização (abaixo de 1%), mesmo quando realizada no mesmo procedimento do cateterismo. Além disso, a ocorrência de uma complicação fatal após a alta hospitalar é ainda mais rara.
Em resumo, tanto o cateterismo diagnóstico quanto a angioplastia com stents são procedimentos corriqueiros nos dias de hoje, fundamentais tanto no diagnóstico quanto no tratamento das obstruções das artérias coronárias, e extremamente seguros. Os fatos ocorridos com o consultor Fábio Arruda são absolutamente incomuns e seriam necessárias maiores informações sobre o caso para poder tentar entender as razões da sua morte.
Portanto, se o seu cardiologista recomendar a realização do cateterismo cardíaco, não tenha receio. O exame é seguro e fundamental para o diagnóstico e a definição da melhor conduta a ser empregada para cada paciente.
Você pode conferir o comentário do Dr. Gilberto em vídeo, clicando na imagem abaixo.