Emprego da cloroquina deve ser criterioso

Na semana passada, o Conselho Federal de Medicina emitiu um parecer autorizando os médicos a utilizarem a cloroquina em pacientes com sintomas leves da Covid-19. Essa orientação tem gerado uma polêmica bastante grande por várias razões.

Primeiro, devido à ausência de evidências científicas de benefícios do tratamento da Covid-19 com a cloroquina, mesmo em pacientes graves. Em segundo lugar, porque na maioria dos casos, pacientes com sintomas leves têm uma evolução benigna, com baixa taxa de complicações e baixo risco de morte. Para esses pacientes, a recomendação é que permaneçam em quarentena, sem necessidade de internação hospitalar ou de algum tratamento específico.

Adicionalmente, a cloroquina possui efeitos colaterais importantes, alguns deles relacionados ao coração e que podem predispor, por exemplo, ao desenvolvimento de arritmias cardíacas malignas.

Além disso, o perfil de segurança observado com a cloroquina no tratamento de pacientes com malária certamente é diferente do perfil de segurança do uso desse medicamento no tratamento de pacientes com Covid-19. A própria infecção pelo coronavírus já causa alterações cardíacas que predispõem ao surgimento de complicações, inclusive essas arritmias graves.

Então, causa um pouco de estranheza que se autorize o uso de uma medicação não comprovada e potencialmente indutora de efeitos colaterais importantes em pacientes de baixo risco e com bom prognóstico.

Nessa linha de pensamento, a FDA (Food and Drug Administration, agência reguladora de medicamentos e alimentos do governo americano) emitiu um alerta aos médicos, orientando que a cloroquina só deve ser utilizada no tratamento da Covid-19 em pacientes internados, com acompanhamento cardiológico constante e com a realização de exames cardiológicos seriados, como, por exemplo, o eletrocardiograma. O outro cenário no qual o FDA autoriza o uso dessa medicação são naqueles pacientes que estão participando de protocolos de pesquisa clínica.

Até que surjam evidências científicas mais robustas, fica o alerta de que a cloroquina não deve ser usada indiscriminadamente e, se for o caso de empregá-la, o seu uso deve ser feito com acompanhamento médico, especialmente cardiológico, muito próximo e com avaliações frequentes.

Confira a matéria do site UOL Notícias, sobre o tema, clicando aqui.


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Dr. Gilberto Nunes | Clínica Cardiologista Porto Alegre