dezembro 2020 | Dr. Gilberto Nunes Cardiologista Porto Alegre dezembro 2020 | Dr. Gilberto Nunes Cardiologista Porto Alegre

Notícias publicadas recentemente indicam que o secretário de Cultura do Governo Federal, Mário Frias, foi internado em um hospital de Brasília com um quadro cardiológico agudo e que teria sido submetido a um cateterismo cardíaco para desobstrução de uma artéria coronária.

Na notícia veiculada pela imprensa, o quadro apresentando por Frias foi caracterizado como “princípio de infarto”. Este é um termo leigo que se refere a uma condição médica chamada de síndrome coronariana aguda.

Esse quadro geralmente é causado por uma obstrução crítica ou uma oclusão total, porém passageira, de uma ou mais das artérias coronárias, que são os vasos que irrigam o músculo cardíaco.

Sem categoria Cardiologista Dr. Gilberto Nunes | Porto Alegre 1Sem categoria Cardiologista Dr. Gilberto Nunes | Porto Alegre 2

Nesses casos, é realizado inicialmente um tratamento com remédios e após a estabilização do quadro, o paciente é submetido a um cateterismo cardíaco dentro de 12 a 24 horas do início dos sintomas.

Nesse exame, é puncionada uma artéria na região do punho ou da virilha e, utilizando-se um cateter especial, as coronárias são visualizadas e identificados pontos de obstrução. Se as obstruções forem graves, é realizado o tratamento no mesmo procedimento por meio da dilatação com balão (angioplastia) e a colocação de pequenas próteses metálicas (os stents).

Já na ocorrência caso de um infarto agudo do miocárdio (que é diagnosticado a partir de alterações características presentes no eletrocardiograma), a artéria coronária é totalmente obstruída por um coágulo que se instala sobre uma placa de gordura rompida, levando a uma interrupção completa da irrigação do músculo cardíaco e à morte do tecido. Nesse caso, o paciente deve ser submetido ao cateterismo cardíaco o mais rápido possível, pois a desobstrução da coronária pela angioplastia com implante de stent limita o dano ao músculo cardíaco e reduz de maneira expressiva o risco de morte do paciente.

Segundo informações veiculadas pelos meios de comunicação, previamente ao quadro cardiológico agudo, o secretário Mário Frias apresentava sintomas da Covid-19. Durante a atual pandemia tem sido observado que, com relativa frequência, os pacientes com quadros cardiológicos agudos retardam a decisão de procurar o atendimento de emergência, quer seja por medo de serem contaminados durante o atendimento no hospital ou por confundirem os sintomas do infarto com os sintomas da Covid. Além disso, as alterações inflamatórias e a ativação da coagulação do sangue provocadas pela infecção pelo coronavírus podem, por si só, desencadear um quadro de infarto do miocárdio ou síndrome coronariana aguda mesmo em pacientes com poucos ou nenhum fator de risco para a aterosclerose (acumulação de placas de gordura nas paredes das artérias).

Cabe ressaltar que, mesmo na vigência da pandemia da Covid-19, as doenças cardiovasculares ainda lideram as causas de morte em adultos no Brasil. Dessa forma, os sintomas sugestivos de um quadro cardiológico agudo não devem ser negligenciados e o atendimento de emergência deve ser procurado sem demora, pois esta atitude pode significar a diferença entre uma recuperação completa ou a ocorrência de sequelas cardíacas graves ou mesmo a morte.



 

A válvula aórtica é uma válvula cardíaca que conecta o coração com a maior artéria do organismo, que é a artéria aorta. Em condições normais, essa válvula permite uma passagem ampla de sangue entre o ventrículo esquerdo e a aorta.

Com o envelhecimento, algumas pessoas podem desenvolver um processo degenerativo causado pelo espessamento dos folhetos, seguido da deposição de gordura e cálcio, provocando a fusão (aderência) de um folheto ao outro, o que provoca uma redução gradual e progressiva da abertura da válvula aórtica. Esse processo é chamado de estenose degenerativa da válvula aórtica.

Quando a redução da área de abertura da válvula aórtica é muito significativa (causando um grande dificuldade à saída de sangue do coração para a artéria aorta), começam a surgir os sintomas clássicos da estenose aórtica que são: a falta de ar (cansaço aos esforços) progressiva, a dor no peito (muito semelhante à dor de angina) e em casos mais extremos, os desmaios com perda momentânea da consciência.

É importante ressaltar que a estenose aórtica quando severa, ou seja, quando a área de abertura da válvula está muito reduzida, causa um aumento do risco de morte dos pacientes. Consequentemente, o tratamento precoce da estenose aórtica grave é muito importante para prevenir a ocorrência de morte e o surgimento de outras complicações. Se a estenose aórtica grave não for tratada, ela pode ocasionar uma progressiva dilatação do coração e o consequente comprometimento da sua função de bomba, levando a uma piora importante dos sintomas e ao aumento do risco de morte.

Tratamento – Até o início dos anos 2000, o único tratamento disponível para a estenose da válvula aórtica era a cirurgia de peito aberto, no qual se expunha o coração, se ressecava a válvula aórtica doente e se colocava uma prótese artificial (que poderia ser metálica ou feita de material biológico).

A partir dessa época, foi desenvolvido um método de implante por cateter de uma nova válvula aórtica. Inicialmente aplicado apenas em pacientes sem condições clínicas de serem submetidos à cirurgia convencional, esse novo método de tratamento foi progressivamente evoluindo e melhorando os seus resultados. Estudos clínicos comparando o implante por cateter com a cirurgia de troca da válvula demonstram resultados equivalentes entre os dois métodos de tratamento no que diz respeito à redução de mortalidade e melhora dos sintomas clínicos. Atualmente, o implante por cateter da válvula aórtica é aplicado em uma ampla gama de pacientes com estenose da válvula aórtica, com uma recuperação mais rápida e também com uma taxa de complicações menores do que se observa com a cirurgia de peito aberto, especialmente nos pacientes mais idosos.

Em resumo, o tratamento por cateter da estenose da válvula aórtica, desde que anatomicamente viável, é o tratamento de eleição da estenose grave da válvula aórtica por ser menos invasivo, ter uma menor taxa de complicações e possibilitar uma recuperação mais rápida dos pacientes.


Dr. Gilberto Nunes | Clínica Cardiologista Porto Alegre